26 maio 2017

Sexta básica de (in)utilidades




(…) À custa de respirar uma atmosfera envenenada, acaba-se por julgá-la normal e sã. Percorrei nossas cidades, folheai as revistas, olhais os cartazes, detendo-vos no teatro, escutai as conversações das jovens; por tôda parte, encontrareis a glorificação dos encantos físicos da mulher: é a religião do corpo. E como publicistas, mundanos e criadores da moda se entendem às maravilhas para explorar os instintos, fàcilmente se chegou à conclusão do cuidado legítimo da beleza corporal com a faceirice perniciosa, e à justificação de ambos.

Nos anos 1950, a série de fascículos "Pensando em casar", traduzidos do francês, ensinava à juventude (em especial, às moças) o que fazer para ter um bom casamento

Consideremos com mais atenção. A feceirice é para vós, que sois jovens, uma tentação quotidiana, a que tanto menos podeis fugir quando existe uma tendência natural que a ela vos inclina. O homem procura, a mulher é procurada; ela o sabe e de bom grado abandona ao homem a fôrça, a fim de reservar para si a beleza. O homem se entusiasma com os jogadores de “box”, os lutadores, os atletas bem formados, com a fôrça corporal. Vós preferis estudar os figurinos, manter-vos ao corrente do último grito em matéria de vestidos e chepéus, conhecer o que ordenará a moda na próxima estação. Algumas sabem até quais os processos cosméticos pelos quais Jean Harlow, Myrna Loy ou qualquer outra celebridade mundana, conservam a beleza. (…) Quem vos observar diante das vitrines convence-se, se já o não estava, de que a “toilette” forma a trama geral de vossos pensamentos. (…)



(…) Em si mesma, não é má essa tendência, pois que Deus a colocou em vós; é suficiente e necessário contê-las nos justos limites.

(…) A beleza deve concorrer para facilitar a vossa vocação de noiva, espôsa e mãe; não vos foi concedida para fazer a roda como pavão ou para retalhar os jovens corações inexperientes. Se a beleza corporal acrescenta à juventude seu atrativo e frescura, pode também causar a degradação moral.

(…)

Dos doze aos vinte anos, a jovem orienta a sua vida sentimental para a verdadeira felicidade ou para as desordens. Ela possui em reserva os dons preciosos que preparam a espôsa e a mãe. Mas, se em vez de formar-se nas afeições sadias e no dom de si mesma, encerra-se no próprio egoísmo, semeia um futuro de desilusões, sofrimentos e lágrimas. (…)

(…)




Repito: uma jovem nunca deve permitir que se lhe ofusquem os encantos pessoais; deve conservá-los, desenvolvê-los como expressão de seu valor íntimo. (…) Ao contrário, censuro o relaxamento das “toilettes” e a negligência nas atitudes íntimas, o sórdido “negligé” após o matrimônio. Mas a plástica feminina, tanto quanto a masculina, deve ser relegada ao segundo plano, pois

A beleza se evola fugitiva
E intato permanece o coração.

Moderai portanto o desejo exagerado de agradar. Quanto ao gôsto de embelezar-vos, que Deus vos concedeu, dominai-o em vez de vos tornardes sua escrava. (…)

Bem tolo é aquele que pretende dirigir a vida a seu bel prazer. A riqueza da alma feminina sempre lhe será de maior valor que o invólucro da carne. Ora, não é amando-se a si mesmo que se adquirem o valor humano e as alegrias da alma, mas devotando-se, cumprindo o dever e dedicando-se sem conta para dar aos outros a felicidade. Só por êsse preço é que a vossa beleza corporal refletirá a riqueza e beleza de vossa alma.


Pensando em casar (Para a Juventude)
Vol. 11 – Tenho direito de agradar?
Gerard Petit, traduzido por Lydia Christina
Edições Paulinas, 1955

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