26 maio 2017

Sexta básica de (in)utilidades




(…) À custa de respirar uma atmosfera envenenada, acaba-se por julgá-la normal e sã. Percorrei nossas cidades, folheai as revistas, olhais os cartazes, detendo-vos no teatro, escutai as conversações das jovens; por tôda parte, encontrareis a glorificação dos encantos físicos da mulher: é a religião do corpo. E como publicistas, mundanos e criadores da moda se entendem às maravilhas para explorar os instintos, fàcilmente se chegou à conclusão do cuidado legítimo da beleza corporal com a faceirice perniciosa, e à justificação de ambos.

Nos anos 1950, a série de fascículos "Pensando em casar", traduzidos do francês, ensinava à juventude (em especial, às moças) o que fazer para ter um bom casamento

Consideremos com mais atenção. A feceirice é para vós, que sois jovens, uma tentação quotidiana, a que tanto menos podeis fugir quando existe uma tendência natural que a ela vos inclina. O homem procura, a mulher é procurada; ela o sabe e de bom grado abandona ao homem a fôrça, a fim de reservar para si a beleza. O homem se entusiasma com os jogadores de “box”, os lutadores, os atletas bem formados, com a fôrça corporal. Vós preferis estudar os figurinos, manter-vos ao corrente do último grito em matéria de vestidos e chepéus, conhecer o que ordenará a moda na próxima estação. Algumas sabem até quais os processos cosméticos pelos quais Jean Harlow, Myrna Loy ou qualquer outra celebridade mundana, conservam a beleza. (…) Quem vos observar diante das vitrines convence-se, se já o não estava, de que a “toilette” forma a trama geral de vossos pensamentos. (…)



(…) Em si mesma, não é má essa tendência, pois que Deus a colocou em vós; é suficiente e necessário contê-las nos justos limites.

(…) A beleza deve concorrer para facilitar a vossa vocação de noiva, espôsa e mãe; não vos foi concedida para fazer a roda como pavão ou para retalhar os jovens corações inexperientes. Se a beleza corporal acrescenta à juventude seu atrativo e frescura, pode também causar a degradação moral.

(…)

Dos doze aos vinte anos, a jovem orienta a sua vida sentimental para a verdadeira felicidade ou para as desordens. Ela possui em reserva os dons preciosos que preparam a espôsa e a mãe. Mas, se em vez de formar-se nas afeições sadias e no dom de si mesma, encerra-se no próprio egoísmo, semeia um futuro de desilusões, sofrimentos e lágrimas. (…)

(…)




Repito: uma jovem nunca deve permitir que se lhe ofusquem os encantos pessoais; deve conservá-los, desenvolvê-los como expressão de seu valor íntimo. (…) Ao contrário, censuro o relaxamento das “toilettes” e a negligência nas atitudes íntimas, o sórdido “negligé” após o matrimônio. Mas a plástica feminina, tanto quanto a masculina, deve ser relegada ao segundo plano, pois

A beleza se evola fugitiva
E intato permanece o coração.

Moderai portanto o desejo exagerado de agradar. Quanto ao gôsto de embelezar-vos, que Deus vos concedeu, dominai-o em vez de vos tornardes sua escrava. (…)

Bem tolo é aquele que pretende dirigir a vida a seu bel prazer. A riqueza da alma feminina sempre lhe será de maior valor que o invólucro da carne. Ora, não é amando-se a si mesmo que se adquirem o valor humano e as alegrias da alma, mas devotando-se, cumprindo o dever e dedicando-se sem conta para dar aos outros a felicidade. Só por êsse preço é que a vossa beleza corporal refletirá a riqueza e beleza de vossa alma.


Pensando em casar (Para a Juventude)
Vol. 11 – Tenho direito de agradar?
Gerard Petit, traduzido por Lydia Christina
Edições Paulinas, 1955

22 maio 2017

Quem matou Sheila?


Os filmes da Rede Manchete eram especiais. Não por serem grandes sucessos ou produções conhecidas. Pelo contrário. Vários deles eram pouco conhecidos ou obscuros, reprisados à exaustão pela emissora, que possuía um catálogo reduzido, mas repleto de raridades. Ano passado fiz um post ("Segredos femininos") sobre uma dessas raridades e agora resolvi fazer sobre outra. Trata-se de O Fim de Sheila (The Last of Sheila), filme de 1973 produzido e dirigido por Herbert Ross, cuja filmografia inclui vários sucessos como Visões de Sherlock Holmes (The Seven-Per-Cent Solution, 1976), Momento de Decisão (The Turning Point, 1977), A Garota do Adeus (The Goodbye Girl, 1977), California Suite (1978), Footloose - Ritmo Louco (Footloose, 1984) e Flores de Aço (Steel Magnolias, 1989) entre outros. O Fim de Sheila, no entanto, é uma pequena obra-prima que ficou (injustamente) esquecida. Gravei da TV, em 1994, quando a Manchete o reprisou pela enésima vez.


Se, à época de seu lançamento, a crítica e o público não deram muita bola para o filme, com o passar das décadas ele adquiriu — como acontece com frequência — um status cult. Mas, no Brasil, permanece obscuro. Nunca chegou a ser lançado em vídeo e nem em DVD aqui. Mas em 2004 ganhou uma edição da Warner, em DVD (já fora de catálogo), nos EUA. O elenco, a direção e o roteiro sofisticados não impediram o filme de cair precocemente no esquecimento. Para os amantes do gênero "quem matou?", a trama impecável oferece um complexo jogo, cheio de pistas, reviravoltas e dicas discretas, que fogem facilmente à percepção. Tanto que o ideal é ver O Fim de Sheila várias vezes, para captar e conferir as muitas sutilezas contidas nos diálogos, cenários e ações.

Sheila Green (Yvonne Romaine), uma colunista de fofocas de Hollywood, sai de uma festa, intempestivamente e a pé, altas horas da madrugada, após uma discussão com o marido Clinton (James Coburn). Acaba atropelada por um carro e morre. A pessoa que dirigia sai sem prestar socorro. Um ano depois, Clinton, que é um excêntrico produtor cinematográfico, convida seis amigos do casal (que estavam presentes na trágica noite) para uma gincana — uma espécie de reality show particular. A ideia de fazer um filme sobre a vida de Sheila é o chamariz para atrair os seis convidados. Desta forma, reúne o pequeno grupo em seu requintado iate (cujo nome também é Sheila), o ponto de partida do tal jogo que deve durar uma semana. Na verdade, Clinton sabe que uma daquelas seis pessoas é a assassina. Mais: ele sabe qual delas é a pessoa que matou sua esposa, mas arma o complexo jogo para sua diversão sádica, como forma de se vingar.



"A radiografia de seis fracassados"
Os convidados são Philip (James Mason), Alice (Raquel Welch), Lee (Joan Hackett), Anthony (Ian McShane), Christine (Dyan Cannon) e Tom (Richard Benjamin). Todos direta ou indiretamente ligados ao cinema: o roteirista frustrado e sua esposa milionária, o diretor antiquado, a mordaz agente de talentos, a bela e temperamental atriz e seu namorado fanfarrão. O grupo, inocentemente, acha que tudo não passa de mais uma divertida excentricidade de Clinton. Todos recebem um cartão com um "segredinho" de cada um deles, como ladrão (ou ladra), homossexual, ex-condenado(a), alcoólatra, molestador(a) de criancinhas, delator(a). Detalhe: os cartões com os segredos obscuros estão trocados e não com as pessoas às quais correspondem. Ninguém sabe dos segredos um do outro e nem quem está com qual cartão. O objetivo é tentar descobrir o segredo dos outros jogadores sem que eles descubram o seu. A cada noite há uma caça às pistas, arquitetada cuidadosa e teatralmente por Clinton. A cada etapa do jogo, no decorrer da semana, o iate será ancorado em um porto diferente da Riviera Francesa, que servirá de cenário para a prova do dia. A ideia é que os segredos sejam expostos no decorrer do jogo, dia após dia. No final, a pessoa que matou Sheila será exposta, seguindo as intrincadas regras do jogo, criadas exatamente para este fim.


O ritmo pode parecer lento, mas o suspense é crescente, embora discreto, e entremeado por diálogos cheios de perspicácia, acidez e uma dose de refinado humor negro. O filme tem também o mérito de ser o único escrito pelo ator Anthony Perkins (o Norman Bates de Psicose) e pelo renomado compositor Stephen Sondheim (considerado pelo jornal The New York Times como "o maior e talvez o mais conhecido artista do teatro musical americano").

A inspiração para o filme partiu de uma série de sofisticados jogos organizados por Perkins e Sondheim na vida real, em Manhattan, durante o final dos anos 1960 e o começo dos 1970. Os dois eram fascinados por jogos de charadas e detetives e costumavam promover esse tipo de gincana particular para os amigos. Entre esses amigos estava o diretor Herbert Ross, que os encorajou a escrever um roteiro baseado nesse tipo de jogo.

Anthony Perkins e Stephen Sondheim, roteiristas de O Fim de Sheila
Perkins e Sondheim receberam o Edgar Allan Poe Award de Melhor Roteiro Cinematográfico, em 1974. O Edgars, como é popularmente conhecido, é uma premiação concedida pela organização Mystery Writers of America (MWA) aos melhores autores e roteiristas de mistério e histórias policiais, nas áreas de literatura, cinema, série de TV e teatro.

Embora Stephen Sondheim já fosse um músico e compositor de prestígio, a trilha sonora do longa não foi arranjada por ele e sim Billy Goldenberg. O tema de encerramento, Friends, cantado pela então estreante Bette Midler, foi a primeira de suas canções a entrar em um filme. A faixa fazia parte de seu álbum de estreia, The Divine Miss M, lançado no ano anterior.


As filmagens foram prejudicadas por sucessivos conflitos (internos e externos) como atrasos, condições climáticas, enjoos, choque de personalidades e confinamento do elenco e produção no iate, além dos ataques de estrelismo de Raquel Welch, com direito, inclusive, a objetos cenográficos atirados no set. James Mason chegou a declarar, certa vez, que Welch era "a atriz mais egoísta, mal-educada e descortês com quem já tive o desprazer de trabalhar". Mexericos à parte, nada disso pode ser notado no resultado final do filme. O Fim de Sheila é, sem dúvida, imperdível para quem aprecia um mistério extremamente bem construído.

Raquel Welch e James Mason no set de O Fim de Sheila

O roteiro foi romanceado e transformado em livro, como estratégia para divulgação do filme

11 maio 2017

Novelas pouco memoráveis, trilhas internacionais marcantes - Parte 2


Para dar continuidade à postagem anterior, mais sete novelas pouco marcantes com trilhas internacionais que marcaram época:


1. O Grito (1975-76)



Era moda na década de 1970 que brasileiros adotassem nomes estrangeiros e gravassem em inglês. Essas canções tornavam-se muito populares no Brasil, mas grande parte delas, hoje em dia, não é muito conhecida. A romântica True Love — maior sucesso de Steve MacLean (nome artístico do cantor e empresário brasileiro Hélio Costa Manso) — abre esta trilha (que hoje soa extremamente envelhecida, apesar de conter canções bem populares na época). Sem dúvida a faixa mais famosa e ainda hoje muito lembrada deste LP é Fly, Robin, Fly, do grupo disco Silver Convention, que estourou nas pistas de dança européias pouco antes da disco music se tornar febre mundial. O grupo de irmãos Jackson Five marcou presença com Breezy, um rhythm and blues bem característico da primeira metade daquela década. A faixa foi extraída do álbum Moving Violation, o décimo primeiro do conjunto. Hey Girl (Tell Me), soul adocicado do norte-americano Bobby Wilson, encerra o lado A. Pouco conhecido, Wilson lançou, em 1975, o LP I'll Be Your Rainbow (de onde foi tirada Hey Girl), um álbum bem produzido, exemplo perfeito do soul que dominava aquele período. Um grande hit da trilha internacional de O Grito foi Island Girl, primeiro compacto do álbum Rock Of The Westies (1975), de Elton John. Outra faixa de R&B foi So In Love With You, do norte-americano Leroy Hutson. Ex-vocalista do grupo The Impressions, Hutson compôs, produziu e gravou seu primeiro álbum solo (Love Oh Love) em 1973, de onde foi tirada a faixa. 


2. Espelho Mágico (1977)



Na virada de 1977 para 1978, com a disco music disseminando-se rapidamente pelo mundo, não é surpresa que as faixas mais memoráveis desta trilha sejam exatamente as dançantes. Pelo menos duas delas, extremamente populares na época (e até hoje conhecidíssimas) entraram neste LP: Yes Sir, I Can Boogie, da dupla feminina Baccara; e Ma Baker, do grupo Boney M. Ambos chegaram ao topo das paradas com canções em inglês, mas Baccara era da Espanha e Boney M. da Alemanha. As duas faixas figuram, até hoje, em toda coletânea de disco music que se preze. Como não podia faltar aqui, Donna Summer, a "rainha das discotecas", marcou presença com I Remember Yesterday, faixa extraída do LP de mesmo nome e enorme sucesso. Roberta Kelly, outra cantora que fez nome com músicas de discoteca, comparece aqui com Trouble Maker, seu maior hit (embora os brasileiros se lembrem mais de Zodiac). Na cota de canções lentas ou românticas ainda famosas, um grande sucesso dos Bee Gees, Love So Right, segundo compacto do álbum Children of the World (1976), que recolocou o trio no topo das paradas mundiais e popularizou a febre das discotecas. O melancólico hit C'est La Vie, da banda britânica de rock progressivo Emerson, Lake & Palmer, é, até hoje, um dos mais marcantes aqui no Brasil.


3. Champagne (1983-84)



Entre as canções românticas, You and I, dueto de Kenny Rogers e Barry Gibb, ficou bastante popular. "Essa música obteve mais sucesso no Brasil do que em qualquer outro país graças à novela, na qual é o tema do casal principal", explicam Guilherme Bryan e Vincent Villari no livro Teletema: a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira - Vol.1 - 1964 a 1989 (Dash Editora, 2014). Is This the End?, do grupo New Edition, também foi muito executada na época e é até hoje muito lembrada com carinho. A faixa foi tirada do álbum de estreia do conjunto, Candy Girl. Just My Imagination, regravação bem-sucedida de Lillo Thomas, é outra que se tornou hit. Gravada originalmente pelo grupo The Temptations em 1971, a versão de Thomas foi lançada em seu álbum Let Me Be Yours (1983). O Air Supply, duo australiano responsável por vários hits açucarados na década de 1980, comparece aqui com um de seus grandes sucessos, a ultrarromântica Making Love Out of Nothing at All. Entre as faixas dançantes, três muito populares: All Night Long, de Lionel Richie; I Am What I Am, de Gloria Gaynor; e Heart And Soul, de Huey Lewis. Sunshine Reggae, da banda dinamarquesa Laid Back, também teve destaque. E, como não podia deixar de ser, a faixa que dá título à novela, Champagne, em gravação do espanhol Manolo Otero — hit obrigatório das churrascarias — encerra este LP. Originalmente gravada e lançada pelo italiano Peppino di Capri em 1973, a canção tornou-se muito popular na Alemanha, na Espanha e aqui no Brasil.


4. Hipertensão (1986-87)



Esta trilha internacional é cheia de hits emblemáticos dos anos 1980, quase todos ainda muito populares. Não foi à toa que se tornou o LP internacional de novela das 7 mais vendido. Os sucessos dominam o lado A: Human, da banda britânica de new wave/synthpop The Human League; Papa Don't Preach, de Madonna; Stuck With You, de Huey Lewis & The News; The Glory of Love, de Peter Cetera, o famigerado tema de Karate Kid 2 - A Hora da Verdade Continua; Don’t Forget Me (When I'm Gone), da banda canadense de rock Glass Tiger; e Shake You Down, de Gregory Abbott. Com o perdão do trocadilho, o lado B não fica atrás: Lady in Red, do britânico Chris De Burgh, foi a faixa que tornou o cantor conhecido mundialmente. Right Between The Eyes foi o maior hit do Wax, conjunto pop formado pelo norte-americano Andrew Gold e pelo britânico Graham Gouldman. O duo holandês MC Miker G & DJ Sven comparece com a irresistível Holiday Rap, com base no hit Holiday (1983), de Madonna. Os sucessos não param: Gone With The Winner, da banda Century; Emotion in Motion, de Ric Ocasek; e I'm the One Who Really Loves You, de  Austin Howard, produzida pelo famoso trio de compositores e produtores britânicos Stock-Aitken-Waterman, que transformavam em ouro tudo o que tocavam entre a segunda metade dos anos 1980 e o começo dos 1990. Este é um daqueles discos que não podem faltar em nenhuma festa "anos 80" digna de respeito.


5. Olho No Olho (1993-94)



Outra trilha bem ao gosto do público jovem. Teve muitos hits tocados incessantemente nas rádios e programas de TV. What's Up, da banda norte-americana de rock alternativo 4 Non Blondes, virou uma das músicas mais representativas dos anos 1990. Mas foi o único sucesso do grupo. Outro one-hit-wonder manjadíssimo foi Boom Shack-a-Lak, do cantor e DJ Apache Indian. E vamos para o terceiro one-hit-wonder desta trilha: Informer, do músico canadense Snow, também muito executada na época. How You Gonna See Me Now, sucesso de Alice Cooper que havia feito parte da trilha internacional de Pai Herói (1979) ganhou uma versão da banda brasileira Easy Rider, cujo vocalista era o ator, locutor e apresentador Dudu Graffite (apelido de Eduardo Schechtel). A versão cover teve destaque e repercussão. Mais um one-hit-wonder: Vas-Y Vas-Y, da francesa Isabelle Camille, muito tocado na novela e instantaneamente reconhecível. Step It Up, do grupo britânico Stereo MCs, foi outra faixa de bastante impacto na época. Também fez parte da trilha do filme Quanto Mais Idiota Melhor 2 (Wayne's World 2, 1993). A boy band britânica Take That marcou presença com A Million Love Songs, faixa extraída de seu álbum de estreia, Take That & Party (1992). Regret, do New Order, também foi muito tocada e entrou para o repertório de hits da banda. Como músicas italianas sempre encontraram um terreno fértil no Brasil — e nas trilhas de novelas brasileiras —, Cose Della Vita, do italiano Eros Ramazzotti, fez muito sucesso. Deborah Blando, que tinha acabado de explodir, compareceu com Merry-Go-Round, tirada de seu bem-sucedido álbum de estreia, A Different Story (1991).  


6. Pátria Minha (1994-95)



Entre os inúmeros covers de All By Myself (originalmente gravada pelo americano Eric Carmen em 1975), o de Sheryl Crow é um dos mais famosos. É a regravação de Crow que abre esta trilha, por sinal cheia de hits típicos da primeira metade da década de 1990. Entre as muito tocadas nas rádios e programas de TV estavam She's Beautiful, do Double You, grupo italiano de eurodance que fez sucesso cantando em inglês; I'll Make Love II You, grande sucesso do grupo norte-americano de R&B/soul Boyz II Men; Games People Play, da banda jamaicana de reggae Inner Circle; Breathe Again, de Toni Braxton; Return To Innocence, do Enigma; Everybody, do DJ Bobo (nome artístico do músico suíço Peter René Cipiriano Baumann); Mmm Mmm Mmm Mmm, do grupo de folk-rock canadense Crash Test Dummies; e Sweet Dreams, da banda alemã de eurodance La Bouche (obrigatória em todas as festinhas dos anos 1990). 


7. Suave Veneno (1999)



A trilha começa com o cover de Mariah Carey para Do You Know Where You're Going To (hit de Diana Ross, de 1975, tema do filme homônimo). A gravação original, de grande sucesso na década de 1970, já havia feito parte da trilha internacional da primeira de versão de Anjo Mau (1976). Outra faixa romântica de Suave Veneno internacional, To Love You More, de Celine Dion, também foi muito executada. Em 1997 a canção já havia ganhado uma versão em português (Te Amo Cada Vez Mais), muito popular, da dupla João Paulo & Daniel. A boy band 'N Sync comparece aqui com um cover de Sailing, sucesso de Christopher Cross, de 1980, que fizera parte da trilha internacional de Coração Alado. Outras baladas de destaque foram That I Would Be Good, de Alanis Morissette; e Big Big World, da sueca Emilia, um dos hits mais tocados de 1998. Everything I Do (I Do It For You), de Brandy, foi outro cover de sucesso (regravação do hit de Bryan Adams, de 1991, tema do filme Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões). Uma das faixas de maior sucesso da época (e desta trilha) foi, sem dúvida, a dançante Believe, de Cher, megahit vencedor do Grammy na categoria Best Dance Recording, em 2000. You Get What You Give, da banda norte-americana de rock alternativo New Radicals, fez sucesso no mundo todo e é considerada um dos maiores one-hit-wonders dos anos 1990. Mais um cover engrossa a lista desta trilha: As, de George Michael, com participação de Mary J. Blige. A gravação original, de Stevie Wonder, fez parte de seu lendário álbum de 1976, Songs in the Key of Life. Um cover desta mesma canção já havia feito parte da trilha internacional de O Pulo do Gato (1978), em versão do canadense Tony  Sherman. A norte-americana Lauryn Hill, conhecida como vocalista do grupo The Fugees, aparece com seu hit de estreia na carreira solo, Doo-Wop (That Thing).

08 maio 2017

Novelas pouco memoráveis, trilhas internacionais marcantes


Sabe aquelas novelas das quais pouca gente se lembra? Ou até se lembra, mas não sente muita vontade de rever. O fato de não terem emplacado e nem entusiasmado o público fez com que caíssem no esquecimento rapidamente. No entanto, se as novelas em si não deram certo — por um motivo ou outro — , suas trilhas sonoras internacionais eram recheadas de hits da época. Muito tocados nas rádios, programas de TV e festas, esses hits ainda estão vivos na memória do público, mesmo que as novelas não sejam tão memoráveis. Listei sete dessas trilhas internacionais:


1. Supermanoela (1974)


Mesclando temas românticos com outros dançantes, como é comum em trilhas de novelas, este LP trouxe duas baladas de enorme sucesso: uma foi I’m Falling in Love With You, do grupo de soul norte-americano Little Anthony And The Imperials. O conjunto, na ativa desde a década de 1950, era veterano quando lançou o álbum On A New Street (1973), que trazia a faixa em questão. Curiosamente, a música estourou no Brasil, mas não foi tão marcante fora daqui. O próprio grupo é pouco lembrado hoje em dia. Outra balada, Betcha By Golly, Wow, do grupo também norte-americano de R&B The Stylistics, é muito executada ainda hoje. Até meados da década de 1970, o conjunto (formado no final dos anos 1960) dominou as paradas de sucesso com suas canções românticas, emplacando hit atrás de hit. Betcha by Golly, Wow estava no LP de estreia, lançado em 1971, que também incluía outro grande sucesso: You Are Everything. No LP internacional de Supermanoela, a faixa aparece na famosa gravação de Diana Ross & Marvin Gaye. Outro megasucesso no LP é Goodbye Yellow Brick Road, de Elton John, comumente considerada sua melhor canção. Passando para as faixas dançantes, Hey Hey, do conjunto francês Pop Concerto Orchestra, também estourou no Brasil, além de Witch Doctor Bump, do grupo Chubukos, funk apelidado aqui de "Melô do Pato" (devido aos vocais distorcidos, lembrando o Pato Donald). The Love I Lost, sucesso de 1973 do grupo Harold Melvin & The Blue Notes, também entrou no LP, porém em gravação genérica de Allen Brown. Sylvia, que Stevie Wonder havia lançado em seu álbum de 1966, Down to Earth, também teve destaque na trilha da novela e nas paradas de sucesso. Detalhe: todas essas citadas são apenas as faixas do lado A, que sobreviveram ao tempo e continuam vivas na memória do público.


2. Sinal de Alerta (1978-79)



Como explicam Guilherme Bryan e Vincent Villari em seu livro Teletema: a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira - Vol.1 - 1964 a 1989 (Dash Editora, 2014), as faixas dançantes não foram prioridade neste LP: "Contrariando a tendência da época, esta trilha se baseou mais no pop internacional do período do que na disco music, que realmente nada tinha a ver com o clima da trama (...)". Mesmo assim, três sucessos do gênero marcaram presença: Boogie Oogie Oogie, um dos maiores hits da disco music e o maior do conjunto A Taste of Honey (aqui em versão genérica de Black Symphony); Love’s in You, Love’s in Me, parceria de Giorgio Moroder, papa da música eletrônica, com a cantora Chris Bennett; e Shadow Dancing, o maior hit de Andy Gibb (irmão caçula dos Bee Gees), que liderava as paradas de sucesso da época. Fool (If You Think It’s Over), maior sucesso do britânico Chris Rea (considerado one-hit-wonder), foi outra faixa marcante. Rita Coolidge, que emplacava várias canções românticas na época, era presença constante nas trilhas de novelas da época. Aqui a escolhida foi Love Me Again, tirada do álbum de mesmo nome, lançado naquele ano. O guitarrista, cantor e compositor Eric Clapton teve um de seus maiores hits nesta trilha: Lay Down Sally, faixa country extraída do LP Slowhand (1977), um dos mais emblemáticos e bem aclamados de sua carreira. A canção também fez parte da trilha de Álbum de Família (August: Osage County), um dos filmes mais elogiados de 2013. Falando em filme, dois temas de filmes de 1977 entraram neste LP: o primeiro, Goodbye Girl, de David Gates, tema do filme A Garota do Adeus (Goodbye Girl, 1977) — que rendeu a Richard Dreyfuss o Oscar de Melhor Ator; o segundo, A Distant Time, de Freya Crane, tema de Haunted, filme de terror de quinta categoria do diretor Michael A. de Gaetano. Still the Same, grande sucesso do americano Bob Seger, também é muito lembrada até hoje e aumentou a lista de canções marcantes deste LP. 


3. Os Gigantes (1979-80)



A "ovelha negra" das telenovelas brasileiras ganhou uma trilha internacional bem eclética, com hits que até hoje são muito ouvidos e executados. Teve um pouco de tudo: jazz-funk, rock, disco music, românticas, instrumentais. Praticamente todo o lado A é bem conhecido e ainda tocado em rádios e programas de TV: Good Times, do Chic; I’ll Never Love This Way Again, de Dionne Warwick; Rise, de Herb Alpert; Sultans of Swing, do grupo Dire Straits; e Still, dos Commodores. O lado B envelheceu mais, com faixas hoje obscuras. Mas ainda assim tem She Believes in Me, grande sucesso de Kenny Rogers — no ápice de sua carreira — extraído do álbum The Gambler (1978). 


4. De Quina Pra Lua (1985-86)



Esta trilha teve uma enxurrada de hits que marcaram os anos 1980 e ainda permanecem bastante lembrados. Praticamente todas as faixas foram muito tocadas nas rádios: Don't Close Your Eyes Tonight, de John Denver; Forever Young, do Alphaville; Rock Me Amadeus, do austríaco Falco; Hurts To Be In Love, de Gino Vanelli; Remember I Love You, de Jim Diamond; Tarzan Boy, do grupo italiano Baltimora; I Miss You, do Klymaxx; Never, do Heart; e Saving All My Love for You, de Whitney Houston. Da novela pouca gente se lembra, mas considero esta trilha uma das melhores da época. O LP é ideal para quem quer dar uma festinha "anos 80", com uma boa dose de pop, rock e canções românticas.


5. O Sexo dos Anjos (1989-90)



Eu gostava muito desta novela (talvez por ser criança) e também das trilhas sonoras nacional e internacional. O LP internacional trazia um monte de sucessos que marcaram época. O lado A é bem conhecido: Sweet Child o' Mine, do Guns N' Roses; Listen To Your Heart, do Roxette; A Little Respect, do Erasure; You Got It, de Roy Orbison; Boys (Summertime Love), da italiana Sabrina; If You Don't Know Me By Now, originalmente do grupo Harold Melvin & the Blue Notes, aqui regravada pelo Simply Red; e I'll Be Loving You (Forever) do New Kids On The Block. Boys é frequentemente incluída em coletâneas baratas dos anos 1980. Originalmente lançada em 1987, a faixa explodiu no mundo principalmente por causa do provocante videoclipe da música (um dos mais bregas que já vi). No vídeo, Sabrina aparece dançando na piscina de um movimentado hotel, vestindo um biquíni sem alça. Ao dançar, espevitada, a parte superior do biquíni ficava caindo — o que revelava seus mamilos. A impressão que dá é que o vídeo foi improvisado e mal editado, talvez propositalmente, para exibir os atributos da ragazza. A rede britânica BBC chegou a proibir o clipe de Boys, que depois foi editado para exibição na emissora. O fato é que a música, até hoje, é bem conhecida.


6. Gente Fina (1990)



Impressionante como não me lembro de quase nada desta novela, a não ser da abertura e de algumas cenas soltas. Mas me recordo de ter tentado assisti-la e de tê-la achado bem chata. No entanto, a trilha internacional tocava muito nas rádios. Praticamente todo o lado A foi bastante executado: Another Day in Paradise, de Phil Collins; Running, do Information Society; Sealed With a Kiss, hit dos anos 1960 aqui na versão gravada pelo australiano Jason Donovan (que a recolocou no topo das paradas); Janie's Got a Gun, do Aerosmith; e Advice For The Young At Heart, da dupla Tears For Fears. O lado B não tem tantas faixas marcantes, mas três delas foram grandes hits: Oh L'Amour, do duo Erasure; How Am I Supposed To Live Without You, de Michael Bolton; e All I Wanna Do Is Make Love To You, do Heart.


7. Mico Preto (1990)



Apesar de ter ficado datado, o lado A deste LP quase todo foi de hits que marcaram aquele período: Sending All My Love, do grupo Linear; My My My, de Johnny Gill; Move This, do Technotronic; Still Got the Blues, de Gary Moore; U Can't Touch This, do MC Hammer (faixa até hoje muito popular, sampleada do hit Super Freak, que Rick James lançara em 1981) e The Emperor's New Clothes, de Sinead O'Connor. No lado B,  três sucessos resistiram ao tempo: Oh Girl, de Paul Young; The Power, da banda alemã Snap!; e Star, do Erasure, todas conhecidíssimas. Me lembro de quando ganhei a fita cassete de Mico Preto internacional e de como a escutava sem parar.


PARTE 2