18 fevereiro 2016

As voltas de Travolta


Carismático, obstinado, dedicado, talentoso... Não faltam adjetivos para descrever John Travolta, que completa hoje 62 anos. Seu nome ainda chama a atenção nos quatro cantos do planeta, ainda que sua carreira não esteja mais no auge. (Recentemente virou até meme na internet). 

O meme "John Travolta confuso"

De símbolo sexual nos anos 1970 a ator reverenciado pela crítica nos anos 1990, reconhecido por sua indiscutível versatilidade nos mais variados papéis no cinema, John foi dançarino da Broadway na primeira metade da década de 1970, e alcançou visibilidade nos EUA com a série de TV Welcome Back, Kotter. Mas a fama mundial veio em 1977, com Os Embalos de Sábado à Noite (Saturday Night Fever), filme que o lançou como um dos maiores astros de Hollywood. “Na época, eu pensava: será que quando essa loucura toda passar, ainda vou conseguir trabalho?”, disse o ator, anos depois.


"Ele [Travolta] não era assim tão desconhecido. Já tinha feito Grease na Broadway e conseguira bom público com a série de TV Welcome Back, Kotter. Não foi surpresa para mim o sucesso", explicou o produtor Robert Stigwood, em entrevista à revista Veja de 2 de maio de 1979. Stigwood produziu Os Embalos de Sábado à Noite e Grease — Nos Tempos da Brilhantina, dois filmes que marcaram a história do cinema e a própria carreira de Travolta.

O estrondoso sucesso de Os Embalos — que desencadeou no mundo inteiro a moda das discotecas — valeu a Travolta uma indicação ao Oscar de Melhor Ator e uma popularidade invejável nos EUA — suas fãs organizaram uma manifestação de protesto contra a Academia de Hollywood, que premiara Richard Dreyfuss por A Garota do Adeus.  (Astros & Estrelas e Seus Filmes em Vídeo, Nova Cultural, 1991)

John na série de TV Welcome Back, Kotter (1975)
Fenômeno de um tempo em que o star-system era coisa do passado e Hollywood já não jogava mais sua força a serviço dos atores e atrizes (como acontecia até os anos 1950), o nome de Travolta tornou-se tão grande (ou até maior) que o de seus filmes. Mas, com a mesma facilidade com que eleva um artista à condição de astro, Hollywood costuma virar as costas para muita gente. O que é menos comum é um ator ter sua carreira considerada “sepultada” e, muito tempo depois, “ressuscitar” com sucesso e reconhecimento.




No caso de Travolta, sua modéstia pode tê-lo ajudado a passar pelo momento de estagnação sem que ele tivesse se afundado em drogas ou escândalos. O ator sempre se mostrou conformado com essa sina de às vezes ser um astro, às vezes não. 

A estreia no cinema veio com um papel pequeno, porém marcante, em Carrie, a Estranha (1976). No ano seguinte, estourou com Saturday Night Fever e, logo depois, Grease (1978), fazendo par com Olivia Newton-John. Parecia que nada seria capaz de deter tamanho sucesso. Até que veio Vivendo Cada Momento (Moment by Moment), no final de 1978. Pela primeira vez, Travolta estrelou um drama água-com-açúcar, que em nada lembrava seus musicais. O par, dessa vez, foi com Lily Tomlin, uma consagrada comediante fazendo uma incursão no drama. O desastre foi completo.

Vivendo Cada Momento (1978)
O fã-clube juvenil de John Travolta sairá no mínimo irritado com Vivendo Cada Momento, dramalhão cor-de-rosa dirigido por Jane Wagner e estrelado por Lily Tomlin e pelo discutível bailarino e impecável canastrão — aqui, pela primeira vez, sem dançar um passo sequer. O erro óbvio do filme foi trocar a mágica discoteca de Os Embalos de Sábado à Noite por uma repisada história de amor entre moço pobre e madame rica (...).
Travolta, fora de seus travolteios, não aguenta 5 minutos em cena, mesmo quando aposta em seu sex-appeal passeando uma minúscula sunga — e, com Travolta fora de combate, o filme perde sua principal atração. (Veja, 9 de abril de 1980)

Ele já havia perdido a noiva em 1977, a atriz Diana Hyland (sua mãe no telefime O Rapaz da Bolha de Plástico), e a mãe, Helen, em 1978 (ambas mortas de câncer). Em 1979, foi convidado a estrelar Gigolô Americano (American Gigolo, 1980), mas, deprimido, recusou. Coube a Richard Gere o papel.

Diana Hyland e John Travolta


Apesar da “bola fora” que havia sido Vivendo Cada Momento, em 1980 Travolta ainda mantinha o status de astro em ascensão. Cowboy do Asfalto (Urban Cowboy) pode não ter feito o sucesso esperado, mas não chegou a ser propriamente um desastre.

(...) Travolta prova logo de saída que pode representar um cowboy, a partir do momento em que aparece como um garoto ingênuo deixando sua casa em busca da cidade grande. Não ocupa intempestivamente a tela como fez em Os Embalos de Sábado à Noite. Entra calmamente, com os olhos azuis esperançosos mas preocupados, o clássico garoto do interior.
Diante de nossos olhos, Travolta cresce de menino a homem: é um papel que pede olhares travessos, raivas impetuosas e desejos desarticulados — e ele não faz um movimento em falso. (Veja, 11 de março de 1981)

Cowboy do Asfalto (1980)
Em 1981, graças a um convite do diretor Brian De Palma, Travolta aceitou um papel que mostrou sua maturidade como ator, no filme Um Tiro na Noite (Blow Out): "John Travolta sem enfeites e muito convincente" (Veja, 21 de outubro de 1981). 

Apesar disso, os críticos pareciam olhá-lo com certa desconfiança, como se ele ainda tivesse que provar a que veio. “A atuação de Travolta foi muito elogiada, mas o público parecia não se encantar mais com seu charme (...).” (Astros & Estrelas e Seus Filmes em Vídeo, Nova Cultural, 1991)


Seus trabalhos seguintes não ajudaram: o ator protagonizou dois fiascos no mesmo ano: Os Embalos de Sábado Continuam (Staying Alive) e Embalos a Dois (Two of a Kind), ambos de 1983. O primeiro era a continuação de Saturday Night Fever, dirigida por um improvável Sylvester Stallone, com Travolta exibindo corpo e agilidade de bailarino clássico. O segundo, uma tentativa de reativar o par romântico com Olivia Newton-John. Mas nem o carisma do casal foi capaz de salvar o filme. O público e a crítica não queriam deixar o rótulo dos “embalos” para trás. Travolta parecia condenado a viver aprisionado em seu papel de símbolo sexual dançante. O mesmo sucesso que o elevara à categoria de ídolo mundial o aprisionava a um estigma difícil de ser apagado. 

Foto de capa da revista People (7 de março de 1983)

Os Embalos de Sábado Contionuam e Embalos a Dois, ambos de 1983
Dois anos depois, o ator voltou às telas em Perfeição (Perfect, 1985), ao lado de Jamie Lee Curtis. Mas o filme não causou impacto e, àquela altura, após uma sucessão de fracassos, John Travolta já era considerado um “ex-galã”.

O garotão John Travolta já completou os seus 31 anos, mas ainda conserva aquele jeito de colegial traquinas com que atuou no aterrorizante Carrie, a Estranha ou do dançarino que rodopiava ao som dos Bee Gees em Os Embalos de Sábado à Noite. Para quem gosta de Travolta, Perfeição oferece mais de 2 horas de frugal entretenimento. (Veja, 20 de novembro de 1985)
Perfeição (1985)
A década de 1980 não foi mesmo generosa com Travolta. Entre 1985 e 1989, não deu uma única entrevista, pelo simples motivo de que nenhum jornalista o procurou. Desanimado, mas sem se deixar abalar, o ator encontrou na Cientologia o conforto que parecia buscar. Passou a dedicar-se ainda com mais força a seus hobbies favoritos: pilotar aviões e criar cavalos.

Olha Quem Está Falando (1989)
Até que ressurgiu em Olha Quem Está Falando (Look Who’s Talking, 1989). A despretensiosa comédia fez inesperado e estrondoso sucesso. Embora não tenha recuperado o status de superastro que Travolta detinha uma década atrás, serviu para mostrar que o ator continuava disposto a prosseguir com sua carreira, sempre simpático e bem-humorado. Em 1991, casou-se com a atriz Kelly Preston, com quem viria  a ter três filhos.

Mas a “grande” volta de Travolta foi mesmo em 1994, em Pulp Fiction — Tempo de Violência, de Quentin Tarantino, verdadeiro fenômeno no cinema e na carreira do ator. Palma de Ouro em Cannes, indicação ao Oscar, elogio do público, da crítica e de Tarantino, para quem o repugnante personagem Vincent Vega ficou humano e simpático graças à contribuição pessoal do ator. “Diferentemente de um Jack Nicholson, que tende a ofuscar quem está à sua volta, Travolta se comporta com modéstia, de maneira que todos brilhem.” (Veja, 1º de março de 1995).

Veio então uma onda de contratações para o astro: O Nome do Jogo (Get Shorty), Fenômeno (Phenomenon), A Última Ameaça (Broken Arrow), A Outra Face (Face/Off) e vários outros filmes na segunda metade da década de 1990, a época mais produtiva de sua carreira.

Pulp Fiction (1994)
Pulp Fiction (1994)

“Essa ‘volta por cima’ lembra um pouco o que foi para mim, cinco anos atrás, o primeiro da série Olha Quem Está Falando, em termos de sucesso. Mas agora os comentários têm sido mais elogiosos, porque Tempo de Violência tem uma credibilidade artística muito maior”, disse Travolta, em entrevista a José Emílio Rondeau (Set, março de 1995).

Distante da velha imagem de galã juvenil dos anos 70, a carreira de Travolta entrou em uma boa fase, que continuou na década de 2000. No entanto, a morte do filho Jett, de 16 anos, em 2009, foi um golpe duro de ser superado. “A verdade é que eu não sabia se conseguiria ultrapassar. A vida já não tinha qualquer interesse para mim e demorei muito tempo a aceitar e a melhorar”, disse o ator, durante uma entrevista coletiva em Londres, anos depois. Novamente, a Cientologia o manteve centrado. “A Cientologia é um conjunto de filosofias que ajudam a lidar com a vida”, explicou ele, em entrevista para a revista Seleções, em junho de 2005. “Não é apenas algo em que se acredita, mas uma tecnologia manipulável.” 


Apesar dos altos e baixos, John Travolta é hoje um ator de reconhecido talento. O fato de ser sempre lembrado pelos velhos tempos de Os Embalos de Sábado à Noite e Nos Tempos da Brilhantina não o incomoda. Nessas quatro décadas, provou que é capaz de mostrar outras facetas no cinema. E não é de ficar remoendo insucessos: “Tento me arrepender apenas o suficiente para aprender e não fazer o mesmo da outra vez. Sempre me sinto melhor quando penso em qual foi a minha contribuição numa determinada situação.”




3 comentários:

  1. Michael Carvalho Silva26 de dezembro de 2018 às 14:47

    John Travolta, um dos maiores e mais talentosos, carismáticos, completos e versáteis astros famosos e artistas profissionais de Hollywood e do cinema mundial em todos os tempos e também um verdadeiro galã belíssimo e extremamente sensual, sedutor e envolvente cuja beleza e sensualidade muito intensas, impressionantes e irresistíveis o transformaram no maior e no mais amado, desejado e admirado símbolo sexual e ícone de beleza masculino e americano dos últimos quarenta anos.

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    1. Verdade ele divertiu toda uma geração com seus embalos.

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