17 julho 2015

A americana 'made in Brazil'


Ainda falta um mês para estrear, no canal Viva, a novela Cambalacho, de Silvio de Abreu. Mas a expectativa já é grande entre os fãs da trama que foi sucesso absoluto nos anos 80. Muitos saudosos terão a chance de rever os trambiques de Naná (Fernanda Montenegro) e Jejê (Gianfrancesco Guarnieri), se virando entre um cambalacho e outro para sobreviverem e ainda sustentarem uma penca de criancinhas órfãs.

São tantos os personagens marcantes que fica até dificil falar de todos. Andreia Souza e Silva (Natália do Valle), Tinna Pepper (Regina Casé), Lili Bolero (Consuelo Leandro) e Ana Machadão (Débora Bloch) são só alguns deles, além da dupla central de cambalacheiros, claro. (Sou suspeito, admito, pois Cambalacho é minha novela das 7 favorita.)

Muitos desses atores e atrizes continuam fazendo novelas, filmes ou peças, e ainda são rostos frequentes na mídia. Mas uma personagem, em especial, fez um inesperado sucesso na novela: a "gringa" Debbie Day. O nome ainda é lembrado entre os que assistiram à novela. A atriz que viveu a americana Debbie é Christine Nazareth.


Christine, em Cambalacho, como Debbie Day
Christine atualmente
Christine nasceu em Copacabana, Zona Sul do Rio, e hoje mora em Los Angeles. Tem um filho de 16 anos e "um marido brilhante que cria campanhas para a Apple", nas palavras da propria atriz. Ela também escreve roteiros que um dia serão produzidos ("todo roteirista tem que acreditar nisso") e, enquanto espera, traduz filmes e seriados para o Brasil.

Conversei com Christine por e-mail e remexemos um pouco nas divertidas lembranças de Cambalacho. A entrevista segue abaixo:

1) Como surgiu o convite para fazer Cambalacho?
Foi mais ou menos eu quem me convidei para fazer o papel da americana em Cambalacho. Na época eu era casada com o Euclydes Marinho, autor e roteirista da TV Globo, com que eu tinha colaborado em alguns especiais e seriados. Nossa turma de amigos incluía o diretor Jorge Fernando, que dirigiu Cambalacho. Quando eu soube do papel da americana, achei que só eu poderia fazê-la. Insisti, implorei e o Jorginho acabou me deixando fazer um teste no último segundo, no qual eu falava com o Silvio de Abreu e o Daniel Filho através da câmera, tentendo convencê-los a me dar o papel. Deu certo.


2) Como foi fazer a Debbie Day?
Interpretar a Debbie Day foi... o que mais pode ter sido? Uma delícia, obviously.


3) Você já tinha experiência em acrobacia/dança quando fez Cambalacho, não?
Antes de fazer a novela eu passei uns oito anos estudando jazz em Los Angeles. Meu grupo de amigos incluía muitos dançarinos e alguns coreógrafos. Um deles, Kenny Ortega, foi o coreógrafo do filme Xanadu (que, desde então, virou um clássico, daqueles que, de tão ruim, é bom). Além de dançar no filme, também andei na corda (não era corda, era um cabo de aço) no último número musical, em cima da Olivia Newton-John. Foi um dos meus amigos na Califórnia, que era malabarista, quem me ensinou a andar na corda bamba, o que virou um hobby.  

À direita, Christine se equilibra na cena final de Xanadu (1980)


4) Que momento você considera especial em Cambalacho? Uma cena divertida, ou mesmo complicada, que tenha sido marcante?
Houve muitos momentos especiais e hilários durante as filmagens de Cambalacho. Talvez o mais memorável tenha sido a cena do "casamento" em Roma, logo no princípio da novela. O roteiro dizia que eu deveria sair correndo vestida de noiva pelas ruas de Roma, com o Claudio Marzo correndo atrás, até chegarmos na Fontana di Trevi, onde deveríamos pular dentro e nos beijar debaixo da torrente de água. Em si, essa cena já é absurda, considerando-se que era inverno e fazia uns cinco graus abaixo de zero. Mas, de arremate, a TV Globo não tinha permissão para filmar lá, então Jorginho posicionou a câmera na sacada de um quarto de hotel, que ficava em frente, e nos pediu para fazer a cena como se de fato fôssemos um casal de insanos recém-casados que resolveram fazer uma loucura dessas. E foi o que fizemos. Os turistas que estava lá acreditaram e começaram a gritar "Auguri", nos desejando boa-sorte.

Debbie Day vive seu dia de Anita Ekberg em Cambalacho

5) Seu sotaque na novela é divertidíssimo. Era difícil mantê-lo o tempo todo?
Não era difícil manter o sotaque americano, pois eu tinha morado onze anos nos EUA, e fazia só uns dois anos que estava de volta ao Brasil. 

6) Você ajudou a escrever Meu Destino é Pecar [minissérie exibida pela Globo em 1984]. Além de dançarina e atriz, também escreve? 
Meu Destino é Pecar foi uma minissérie que escrevi com o Euclydes, adaptação do livro do Nelson Rodrigues. Além desse e de alguns outros especiais, fui uma das roteiristas da série Armação Ilimitada, série que inovou o humor na TV Globo.

Armação Ilimitada (1985)

(Clique na foto para ampliar)


FICHA DA PERSONAGEM

Nome completo: Emma Mary Smith - conhecida como Debbie Day
Nacionalidade: Americana
Bordão: "Eu nunca traí un amiga. Eu ser como mio presidente, Mr. Reagan: para mim, amiga ser amiga. Inimigas, bang bang!"


A espevitada Debbie Day é uma das vítimas do sedutor advogado Rogério (Cláudio Marzo), por quem se apaixona, em Roma. Mas só aceita se entregar a ele caso se casem. Como Rogério só queria uma aventura com Debbie, faz de tudo para levá-la para a cama. Forja, então, um casamento com ela. Para isso, conta com a ajuda de seu cunhado Wanderley (Roberto Bonfim), trambiqueiro incorrigível que finge ser padre para realizar a cerimônia. Rogério só passa uma noite com ela e, em seguida, ele e o cunhado fogem. Debbie, então, decide vir atrás de Rogério no Brasil, sem imaginar que ele já era casado com Amanda (Susana Vieira). Para piorar, Debbie, ingênua, fica amiga da vilã Andreia (Natália do Valle), irmã de Amanda. Mais tarde Debbie fica amiga do trapezista Rick e vira sua parceira no circo. Mas não sem antes se envolver em várias tramoias de Andreia. A confusão está armada.







6 comentários:

  1. Que delícia de entrevista, Daniel! Eu, que conheci Debbie Day numa seleção de cenas avulsas de Cambalacho, adorei saber mais sobre a personagem e sobre Christine. Que venha Cambalacho! Não vejo a hora... hehe

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  2. A primeira vez q ouço falar dela com tanta veemencia e curiosidades desde qd a novela acabou em 86...

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  3. Hahahahahahahaha Adorei. "Amigas, amigas. Inimigas, bang! bang!" Eu adorava esse personagem! Era um dos meus preferidos! Lembro até hoje a Natália do Vale dizendo que elas iam para Araraquara em uma cena, e a gringa não conseguia repetir de jeito nenhum o nome da cidade! Hahahahahahahahahahaha Ótima entrevista. E que seja bem-vinda Cambalacho.

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  4. É isso mesmo, Felipe! Debbie não conseguia pronunciar 'Araraquara' hahahaha. Sua memória está impecável ;-)

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  5. Amei, entrevista muito boa.Estou adorando a reprise da novela e queria saber sobre a americana, falava muito engraçado. Legal mesmo,

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  6. Super legal essa entrevista, rever a novela Cambalacho está bom demais!!!!

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