26 fevereiro 2015

50 tons de Interiores


Dedicar um post a um filme de Woody Allen não é tarefa fácil, já que ele fez dezenas de filmes sensacionais, inteligentes e divertidos. Mas se é para falar de um único, acabo escolhendo um dos menos badalados: Interiores (Interiors, 1978).

Diane Keaton, Kristin Griffith e Mary Beth Hurt
Eu já era fã de Allen quando vi esse filme. Relutei um pouco, porque sabia que era um drama, ao contrário dos filmes do diretor com os quais eu estava acostumado (Um Assaltante Bem Trapalhão; Noivo Neurótico, Noiva Nervosa; A Última Noite de Boris Grushenko; Manhattan; A Rosa Púrpura do Cairo etc.). 

Quando aluguei Interiores - ainda no tempo das fitas de vídeo - fiquei fascinado. Não sei bem por quê. Talvez por se tratar de um drama diferente dos dramas americanos típicos, cheio de astros e estrelas, com histórias açucaradas, romance, uma doença no meio e, no final, tudo acaba bem, entre risos. Interiores não. Ele mantém um clima contrito, de angústia, repressão, frustração e melancolia que, mesmo nos poucos momentos descontraídos do filme, não se desvanece. Há sempre uma tensão contida no ar.


Além de ter sido o primeiro filme dirigido por Woody Allen no qual ele não atuava, foi também seu primeiro longa que fugiu totalmente da comédia, gênero no qual já era consagrado. Cansado do mesmo padrão, Woody quis desviar-se de sua fórmula de sucesso e fazer um drama denso, sem espaço algum para o humor. Foi também o primeiro filme dirigido por Allen no qual ele não atuava.

"Eu sempre quis descobrir se tinha algum talento para um drama sério", disse ele, na época em que Interiores foi lançado. "Finalmente, tive coragem de tentar."

Woody Allen dirige Diane Keaton no set de Interiores
Os cenários são todos em tons pastéis, com bege, cáqui, cinza e branco prevalecendo. Até mesmo nos figurinos. O elenco também está impecável.O nome mais conhecido do grande público é o de Diane Keaton. Um ano depois de viver Annie Hall, ela saía da posição de protagonista para dividir a cena com Mary Beth Hurt e Kristin Griffith, suas irmãs no filme. O título Interiores, inclusive, foi sugerido a Woody Allen pela própria Keaton.



Geraldine Page
Para a personagem Eve, vivida por Geraldine Page, Allen tinha em mente Ingrid Bergman, a quem ofereceu o papel primeiro. Impossibilitada de aceitar o convite, teve que recusar, pois já estava comprometida com as filmagens de Sonata de Outono (Höstsonaten, 1978), de Ingmar Bergman. Coube à Geraldine Page o papel, desempenhado de forma magistral pela atriz. 

Curiosamente, tanto Ingrid quanto Geraldine foram indicadas ao Oscar e ao Globo de Ouro por seus respectivos papeis nos filmes. Mas ambas perderam para Jane Fona em Amargo Regresso (Coming Home, 1978).

Em seu livro de memórias O Que Fica Pelo Caminho É Para Sempre (ed. Objetiva, 1997), Mia Farrow, com quem Woody Allen foi casado durante muitos anos, revela:

Os comentários de Woody sobre um ator podiam machucar. "Não acredito em uma palavra disso",  dizia baixo, mas com muita ênfase. "Nenhum ser humano fala assim." "Isso foi novela pura", foi um dos comentários que irritaram Geraldine Page quando eles estavam fazendo Interiores. "A gente pode ver isso à tarde na televisão", disse-lhe Woody. Maureen Stapleton, que trabalhou no mesmo filme, disse: "Ele não é tímido, é anti-social. É uma coisa totalmente diferente.

O filme, aliás, é das mulheres. Além do trio de irmãs e de Geraldine Page, Maurenn Stapleton também está ótima. É a única personagem que destoa do clima do filme. Divertida, loquaz e expansiva, sua personagem diverge das outras até na forma de vestir: suas roupas são mais alegres e têm cores mais vivas.

Maureen Stapleton

Maureen Stapleton e E. G. Marshall

Roy Peter Clark, crítico do St. Petersburg Times (21 de outubro de 1978), também foi positivo:

A atuação em Interiores é, de maneira geral, brilhante. Geraldine Page, vestida de bege e cinza, com o cabelo preso firmemente em um sombrio coque, vive o papel da atormentada Eve com tamanha intensidade que faz lembrar a mãe da peça de Eugene O'Neill, Longa Jornada de Um Dia Noite Adentro.
E.G. Marshall está perfeito no papel do marido e pai entrando na terceira idade, tentando fugir do tédio deprimente de sua vida doméstica de classe média alta e em busca de uma companhia saudável para sua velhice. Ele encontra isso na figura de Pearl (Maureen Stapleton).


Inspirado e feito segundo o molde dos filmes do diretor sueco Ingmar Bergman, especialmente Gritos e Sussurros (Viskningar och rop, 1972), Interiores também teve influência dos trabalhos do escritor russo Anton Chekhov, de quem Woody Allen é fã. Apesar da inegável inspiração, o diretor rebateu críticas sobre o pretenso bergmanismo: "Isso não é uma homenagem a Ingmar Bergman. Nunca fiz homenagens a ninguém", disse ele, na época do lançamento.

Na esteira do imenso sucesso de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977), as pessoas correram para o cinema assim que Interiores foi lançado. Enquanto alguns críticos foram otimistas e teceram loas ao novo filme, ele pareceu não empolgar o público, o que gerou críticas negativas. 

Antes de ser lançado aqui no Brasil, a correspondente do Jornal do Brasil, Beatriz Schiller, falou em sua coluna do dia 23 de agosto de 1978:

Ainda é cedo para prever a aceitação do filme no interior do país. O americano aceita com mais facilidade filmes juvenis e superficiais. Mas, para salvá-lo dessa tendência, Woody Allen tem a seu favor o cartaz imenso, por ter sido recentemente ganhador de Oscar, capa das revistas Time e Newsweek. Americano venera sucesso.

Já Greg Moody, do jornal The Milwaukee Sentinel (29 de setembro de 1978), não foi condescendente:

O diálogo constantemente auto-depreciativo, matraqueado pelos membros da família, lembra, por vezes, uma imitação pobre de um filme de Bergman, tão descaradamente falso que chega a ser absurdo. (...)
Interiores finalmente chega a um ponto em que se torna quase uma sátira do intelectualismo e do simbolismo no cinema, assim como sátira de Bergman e diretores afins. (...)
Interiores funciona apenas em momentos isolados, pois Allen captou apenas a "aparência", não a essência necessária para um filme nesse estilo. (...)

Quando foi lançado aqui, no começo de 1979, as críticas divergiam. Paulo Antônio de Carvalho, da revista Visão, escreveu na edição de 5 de fevereiro de 1979:

As palavras-chaves do filme são criatividade e potencial. Diane Keaton segue cuidadosamente essa receita para tornar-se uma grande poetisa, com caminhadas ao anoitecer à beira do mar, momentos de vazio existencial à la Bergman e visitas regulares ao analista.
Nesta família, escrevem-se poemas, tiram-se fotos, comparam-se tons de vasos e paredes e faz-se política esquerdista numa luxuosíssima cozinha: exercícios de futilidade de pessoas à procura de estilo, forma, mas fatalmente desligadas da humanidade subjacente.

Mas encerra com um belo elogio: "De repente, no meio da melodia, Allen trocou o clarinete pelo baixo, mas o som ainda é esplêndido."

A revista Veja, no entanto, foi pouco generosa na crítica publicada na edição de 28 de março de 1979:

Hermético e óbvio, este cansativo filme de Woody Allen sem Woody Allen pode ter sido necessário à auto-afirmação do ego de seu autor. A platéia, porém, que nada tem a ver com isso, sente-se tão frustrada como se permanecesse durante 91 minutos a encarar uma tela em branco.

Mesmo indicado a cinco categorias do Oscar: Melhor Atriz (Geraldine Page), Melhor Atriz Coadjuvante (Maureen Stapleton), Melhor Direção de Arte e, para Woody Allen, Melhor Roteiro Original e Melhor Diretor, o filme acabou não ganhando nenhum.


Gosto mais da análise Beatriz Schiller para o Jornal do Brasil (23/08/1978): "Um filme equilibradamente melancólico, sem herois nem vilões, sobre os amores, desamores e neuroses entre cinco membros de uma família de alta classe."

Mas como disse Robert H. Newall, do Bangor Daily News de 9 de novembro de 1978: "Interiores é um filme perturbador. Mas não deixe que isso o desanime."


09 fevereiro 2015

Unidos pela cabeleira unissex


Na década de 1970, penteados e estilos de cabelo elaborados deixaram de ser exclusividade das mulheres. Já no final dos anos 60, os homens começaram a deixar o cabelo crescer. Quanto mais selvagem e exótico fosse o look, melhor. A moda era ostentar cabelões, dos lisos escorridos ou escovados aos ondulados ou crespos. Permanente e laquê passaram a ser normais entre os marmanjos também.

Muitos desses cabelos - então masculinos - chegavam a se confundir com os estilos femininos. Mas como a androginia estava em alta, a distinção entre os cortes e penteados começou a ficar muito sutil. Os estilos ficaram meio unissex e podiam ser usados tanto por homens quanto por mulheres. Para complementar os looks capilares masculinos, costeletas, barbas e bigodes eram muitíssimo bem-vindos. Os anos 70 foram, sem dúvida, anos cabeludos!

Aqui, alguns exemplos. Dos hippies e roqueiros aos mais certinhos. Do jeito que tudo acaba voltando um dia, quem sabe essa moda ainda terá um revival?

Black Sabbath: enquanto Ozzy Osbourne fazia a linha Rita Lee, o resto do grupo aderiu ao look Gal Gosta nos cabelos.

Ozzy Osbourne

Os roqueiros do grupo Brother Bait

O grupo francês Les Variations com o apresentador Dick Clark (ao centro)
Os queridinhos do Bay City Rollers

O grupo holandês Teach-In, vencedor do Festival Eurovision de 1975

O grupo inglês The New Seekers

O grupo italiano I Santo California
Esse integrante do I Santo California mereceu destaque. Levei um bom tempo tentando descobrir se era um homem ou uma mulher!

Led Zeppelin: meio roqueiros, meio andróginos

Led Zeppelin
A banda inglesa de glam rock Mott the Hoople

Pink Floyd
O grupo Styx

Queen

O grupo 10cc
Não tem como falar de cabelão 70s sem lembrar dos irmãos Gibb, os Bee Gees? Maurice Gibb (no meio) ainda tinha algum cabelo nessa foto.

Aqui Robin Gibb (à direita) caprichou no escovão

Andy Gibb, o caçula dos irmãos Gibb, estava sempre coma  escova impecável

John Lennon versão mais descolada

Lennon versão Jesus Cristo

George Harrison

Giorgio Moroder

Dennis Wilson, ex-integrante dos Beach Boys

A famosa cabeleira de Jim Morrison

Meu favorito: John Travolta

Um pouco mais de laquê não fez mal à cabeleira de Travolta

Leif Garret, o ídolo teen americano dos anos 70