30 agosto 2014

Obscuridades do tempo das locadoras


Algum tempo atrás, falei da nostalgia que algumas pessoas sentem quando lembram das videolocadoras. Mais do que simples saudade daquela época em que podíamos passear pelas prateleiras dos filmes e passar horas descobrindo novos títulos para alugar, sinto  falta de algumas raridades daquele tempo. Filmes canhestros, ruins mesmo. Produções obscuras que desafiam qualquer tentativa de racionalização do tipo "por que diabos alguém se daria ao trabalho de lançar essa fita?".

Pois bem, justamente por esse motivo, considero alguns desses filmes verdadeiras obras-primas da era das locadoras. Eles já não são mais exibidos na TV, não foram lançados em DVD e nem existem mais, a não ser na estante de um ou outro colecionador que ainda possua essas raridades em VHS. 

Selecionei três dessas maravilhas que ficaram aprisionadas na era do VHS e permanecem no limbo do (quase) esquecimento total. Meu trio de pérolas obscuras: Irmãs Diabólicas (Psycho Sisters, 1973), O Flash da Morte (The Photographer, 1974) e Imagem da Morte (Image of Death, 1977). Quem, porventura, tem alguma dessas fitas (ou as três!), guarde esse tesouro com carinho.

Descobri esses filmes ainda na adolescência, quando era um ávido frequentador das videolocadoras. Sempre tive uma predileção pelos filmes mais esquisitos, obscuros ou menos conhecidos. Alguns até acabam se tornando cult com o tempo, outros continuam ignorados. Tentei achar versões online para baixar, ou mesmo assistir no youtube, mas não encontrei. Tenho as fitas, já gastas de tanto serem assistidas ao longo de décadas. E não me canso. Aqui vão elas:

Imagem da Morte (Image of Death)

Direção: Kevin James Dobson
Elenco: Cathey Paine, Penne Hackforth-Jones, Cheryl Waters, Tony Bonner, Sheila Helpmann.
Austrália, 1977

A ambiciosa Yvonne Arthur vê sua chance de ouro surgir com a chegada de uma amiga dos tempos do colégio, a ricaça Barbara Shields. Aos poucos, uma ideia vai tomando conta de Yvonne: assumir o lugar da amiga e desfrutar de sua fortuna. Rubens Ewald Filho, no Guia Vídeo News Filmes, descreve bem essa fita, lançada no Brasil pela Poletel: "A história serviria bem para uma novela de Janete Clair. Uma moça pobre e ambiciosa mata sua colega de escola milionária e tímida, que seria parecida com ela. Toma seu lugar, mas com tão poucas precauções que não custa a ser descoberta e ter que praticar outros crimes. Produção antiquada e atores deficientes atrapalham esta ideia mal roteirizada."






Irmãs Diabólicas (Psycho Sisters)

Direção: Reginald Le Borg
Elenco: Susan Strasberg, Faith Domergue, John Ashton, Sydney Chaplin, Ben Frank.
EUA, 1973

Apesar de vendida como suspense, essa fita está mais para trama policial de segunda categoria. A edição do filme parece ter sido feita por estudantes do primeiro semestre e as atuações são bem afetadas, mas exatamente por isso, não tem como não se envolver. E dá-lhe clichês! A fita foi lançada no Brasil pela FJ Lucas Vídeo, com uma capa paupérrima e nada a ver. Novamente é Rubens Ewald Filho, no Guia Vídeo News Filmes, quem descreve muito bem essa fita: "Último filme do diretor veterano (que fez A Torre dos Mosntros). Rodado como So Evil My Love, envelheceu muito. Não só a trama lembra dezenas de outros semelhantes, como tudo ficou feio, brega e mal interpretado (apesar de o elenco ter figuras ilustres como Susan, filha de Lee Strasberg, Faith, estrela dos anos 40 e Sydney, filho de Carlitos). É impossível não sacar logo a história, que começa com a viuvez de Susan (o marido morre num acidente de carro depois de ter roubado uma fortuna da irmã mais velha dela). Susan vai morar com ela, que aparentemente a está envenenando com um remédio que lhe dá pesadelos. A situação se desdobra em óbivas revelações duplas. Não vale nem mesmo pelos nostálgicos, que achavam Le Borg talentoso."






O Flash da Morte (The Photographer)

Direção: William Byron Hillman
Elenco: Michael Callan, Barbara Nichols, Harold J. Stone, Edward Andrews, Susan Damante.
EUA, 1974

Adrian Wilde é um fotógrafo atormentado por problemas psicológicos. Um acidente em sua infância - pegou a mãe e o amante fazendo sexo - afetou Adrian, razão pela qual ele usa a fotografia para atrair belas mulheres, matá-las e fotografá-las. Michael Callan, que faz o papel de Adrian, é convincente, mas a história toda é bem inverossímil. A relação de Adrian com a mãe beira o cômico. Mas o surpreendente é a virada no final. O lançamento da fita aqui no Brasil ficou a cargo da Globo Vídeo, que lançava coisas esquisitíssimas em vídeo (para nossa alegria). Como se não bastasse, o diretor William Byron Hillman refez o filme em 1983, com o nome Retrato Mortal (Double Exposure), e escalou novamente Michael Callan para o mesmo papel de Adrian. Mas é claro que eu recomendo o original de 1974, que praticamente saiu de circulação.




12 agosto 2014

Curvas cósmicas que marcaram época


Os concept albums (em português, "álbum conceitual") sempre me atraíram. Mesmo quem não os conhece com esse nome, já se deparou com algum deles, mesmo que não soubesse. Normalmente, na música pop, o disco de um artista ou grupo traz uma série de músicas sem ligação de uma com a outra. No caso do concept album, as músicas, juntas, contam uma única história, lidando com o mesmo tema. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles, é considerado o primeiro concept album. Mas o meu favorito é Cosmic Curves, da inglesa Dee D. Jackson. Aquela mesmo, a "do robozinho".


Depois de trabalhar anos com outros artistas, Dee D. (cujo nome verdadeiro é Deirdre Elaine Cozier) lançou seu primeiro compacto em 1977, Man of a Man, que não chegou a ser incluído em nenhum de seus álbuns. A música passou despercebida. Mas no ano seguinte, ela lançou aquele que se tornaria seu maior sucesso: Automatic Lover. A música ficou em 4º lugar na parada de singles da Inglaterra e em 1º na Argentina, Itália, França, Espanha, Turquia e Japão, além de atingir altas posições em outros países.


Automatic Lover foi o carro-chefe do álbum Cosmic Curves, lançado em meados de 1978 e produzido por Gary Unwin e sua esposa Patty. O sucesso no Brasil foi imediato, impulsionado pela inclusão de Automatic Lover na trilha internacional da novela Dancin' Days. Tanto que a mídia tratou de produzir uma versão brazuca de Dee D. Jackson. Regina Shakti, vestida exatamente como a cantora inglesa, era acompanhada por um robô ou meteor man (nome do segundo hit da cantora) e apresentada nos programas de TV como Dee D. Jackson! Nada como a ingenuidade dos anos 70... Um detalhe: o nome foi ligeiramente alterado, para 'D. Dee Jackson' (em vez de Dee D. Jackson) para evitar problemas com royalties.

Regina Shakti (à esquerda) e a Dee D. Jackson original
Sônia Abreu, responsável pela distribuição dos discos de Dee D. Jackson pela RGE Fermata no Brasil, foi quem teve a ideia. Ao matricular-se na escola de ioga de Regina, Sônia viu na jovem uma semelhança com a cantora inglesa. A expressão corporal de Regina também impressionou Sônia, que propôs a ela dublar Dee D. Jackson nos programas de TV do Brasil. Regina topou. "Não posso afirmar que ser D. Dee Jackson me fascina, mas também não me desagrada", declarou ela, na época. "Não procuro imitá-la e sim interpretá-la, compondo um tipo de acordo com a música cósmica que ela canta". Mas tudo isso ficou no passado. Regina hoje é quiróloga e presidente do Instituto de Yoga de São Paulo.




Voltando à Dee D. Jackson original, a cantora marcou época graças à sua figura exótica e sexy, sempre com roupas colantes e inspirações futuristas. Nas apresentações de TV e no videoclipe - que virou ícone da cultura pop - a cantora aparecia com um robô prateado. Daí a alcunha brasileira de "música do robozinho". A contracapa da edição nacional do LP Cosmic Curves trazia a narrativa que costurava as músicas do álbum:

Estamos no século XXI. Uma jovem desiludida por seu "AMANTE AUTOMÁTICO" (AUTOMATIC LOVER) decide deixar a Terra num "VÔO INCANDESCENTE" (RED FLIGHT) e se perder no espaço em busca de um amor sobre o qual lhe haviam contado. Ela alcança a "GALÁXIA DO AMOR" (GALAXY OF LOVE) e é lá que encontra o que tanto havia procurado. O "HOMEM METEORO" (METEOR MAN) lhe deixa tão deslumbrada que ela se sente em estado total de torpor. Envolvida por tal relacionamento, ela se acredita a própria "VÊNUS, A DEUSA DO AMOR" (VENUS, THE GODESS OF LOVE). Porém, neste Universo, amar é proibido e a "POLÍCIA GALACTICA" (GALAXY POLICE) leva-a para a prisão, onde aguardará seu julgamento. E quando aparece diante do júri, sua única defesa é afirmar que seu encantamento provinha de suas "CURVAS CÓSMICAS" (COSMIC CURVES). Mas os jurados, inflexíveis, obrigam-na a deixar o planeta e viver para sempre nas Cavernas Negras. E a medida que vai se "PERDENDO PELO ESPAÇO" (FALLING INTO SPACE) ela continua a defender a si própria e ao direito de amar as pessoas de todo Universo.








Outra faixa do álbum, Meteor Man, foi lançada como compacto no final de 1978 e também fez muito sucesso ao longo de 1979. Apesar do álbum seguinte, Thunder & Lightning, em 1980, o declínio da disco music fez com que Dee D. perdesse espaço. Ela ainda continuou gravando até 1986, mas sem grande sucesso. Atualmente vive na Itália, onde possui uma gravadora. Mas será eternamente lembrada por suas curvas cósmicas e seu indefectível robô prateado.



02 agosto 2014

8 novelas obscuras dos anos 80


É cada vez mais comum ouvir reclamações sobre as novelas de hoje. As tramas não emplacam tão facilmente como acontecia antes e o público não se prende tanto. Furos e desacertos ficam mais visíveis aos olhos dos ávidos patrulheiros da internet.

Fala-se em “desgaste do gênero” e até mesmo em “reinvenção”. Parece uma contradição quando citamos um fenômeno recente como Avenida Brasil. Outros dizem que “até quando é ruim, a novela é boa”, se referindo ao hábito de o brasileiro assistir novela mesmo quando ela não está lá essas coisas. Talvez os autores de hoje tenham mais dificuldade em criar histórias que prendam o telespectador, já que as novelas atuais concorrem com outros entretenimentos da vida moderna, como internet e TV por assinatura.

Mas lá nos anos 80, quando a maioria das novelas caía no gosto do público, autores e atores conquistavam o povo com inegável carisma. Tramas e modismos eram celebrados e marcavam época, mas nem todas as novelas daquela década seguiram um destino de sucesso. Em meio a tantas bem sucedidas, algumas nem chegaram a ser reprisadas no Vale a Pena Ver de Novo. Permanecem desbotadas lá no fundo do baú, esquecidas na década de 1980. Alguns nomes ainda estão vivos na memória, outros não passam de vaga lembrança.

Escolhi oito dessas novelas “obscuras” da década de 1980. Por um motivo ou outro (ou vários), não emplacaram. Quem sabe hoje, se revistas, não pudessem ter uma segunda chance?


1. O Amor é Nosso! (1981)
De Roberto Freire e Wilson Aguiar Filho


Pedro (Fábio Junior) é um jovem cantor em busca de sucesso. Quando descobre que o irmão se envolveu com sua namorada, sai da casa de seus pais e vai viver em uma comunidade de estudantes. Lá, conhece Bruno (Buza Ferraz), com quem inicia uma parceria profissional. Nina (Myrian Rios), irmã de Bruno, se apaixona por Pedro, mas fica dividida entre ele e Chico (Stepan Nercessian), um seminarista.


Considerada “a mais problemática trama já exibida pela emissora”, segundo reportagem deThell de Castro para o UOL. Tanto que, na época, a cúpula da Globo mandou apagar todos os capítulos. Os autores Roberto Freire e Wilson Aguiar Filho foram posteriormente foram substituídos por Walther Negrão. Um dia após a exibição do último capítulo da novela, o crítico Artur da Távola explicou, no jornal O Globo de 25 de outubro de 1981:

“Muito difícil fazer um balanço crítico de O Amor É Nosso. Diante de tantas alterações, impossível analisar a obra. Não há obra. A novela acabou descosida, diferente, desossada, embora de certa forma divertida. Mas morrerá sem deixar saudades”. E completou: “A novela ficará como essas pessoas que morrem jovens: partem cheias de promessas e esperanças do que poderiam ter sido, se tivessem vindo a ser”.


2. Brilhante (1981-82)
De Gilberto Braga



O comércio de joias e pedras preciosas, e o mistério sobre uma jazida de esmeraldas são o fio-condutor da trama. Luiza (Vera Fischer), designer de joias, reencontra uma antiga amiga, Vera (Aracy Balabanian), passeando em Londres. Acaba testemunhando a morte do marido dela, Oswaldo (José Wilker). De volta ao Brasil, Luiza se surpreende ao ver o mesmo homem vivo, mas com outra identidade.


 Na mesma altura, Luiza entra em contato com a família Newman, donos da empresa de fabricação e venda de joias onde ela trabalha. A matriarca da família, vivida por Fernanda Montenegro, se encanta com a jovem e vê a chance de casá-la com seu filho Inácio (Dênis Carvalho), um homossexual. Mas Luiza acaba se apaixonando por Paulo César (Tarcísio Meira), genro de Chica.

“Plágios de cultura literária e cinematográfica americana comprometeram a história, e um cansativo discurso sobre casais em crise acentuou os desníveis”, explica Nilson Xavier, autor do Almanaque da Telenovela Brasileira, em seu site Teledramaturgia. Resultado: a novela não conseguiu cativar o telespectador.


3. O Homem Proibido (1982)
De Teixeira Filho


Baseada no romance homônimo que Nelson Rodrigues escreveu sob o pseudônimo de Susana Flag (originalmente publicado no jornal Última Hora, em 1951). A trama principal da novela acompanha o triângulo amoroso formado por Sônia (Elizabeth Savalla), Paulo (David Cardoso) e Joyce (Lídia Brondi). Joyce, sete anos mais jovem que a prima Sônia, foi criada pelos tios após a morte da mãe e o desaparecimento do pai.


A novela sofreu várias intervenções da Censura, que considerava Nelson Rodrigues um autor pouco adequado para os padrões “da moral e dos bons costumes”, ainda mais no horário das 18h. Para que os primeiros capítulos fossem ao ar, a Globo teve que aceitar a imposição de muitos cortes. Uma das alegações era a de que os diálogos entre Joyce e Sônia indicavam que as duas jovens eram homossexuais. Além disso, argumentavam que o elenco da novela era composto por atores do chamado “circuito maldito da pornografia”, como David Cardoso e Alba Valéria.

A repercussão da ação da Censura acabou funcionando como publicidade – claro! – e atraiu os telespectadores que ainda não haviam se interessado pela novela. Mas O Homem Proibido não passava de um dramalhão banal e não trazia nada além do permitido no horário. Uma curiosidade: foi a primeira novela das 18h a ter trilha sonora internacional, coisa que, até então, só as novelas das 19, 20 e 22 horas ganhavam.


4. Voltei pra Você (1983-84)
De Benedito Ruy Barbosa


O título provisório foi O Herdeiro, posteriormente alterado. O autor trouxe de volta seis personagens de sua novela Meu Pedacinho de Chão, apresentada em 1971 pela Globo e pela TV Cultura (e que também ganhou um remake em 2014). Serelepe e Pituca (já adultos), Zelão, Tuim, Coronel Epaminondas e Padre Santo voltavam numa nova trama.


Gravada quase inteiramente em São João Del Rei (MG), a história começa com o reencontro dos amigos de infância Pedro das Antas/Serelepe (Paulo Castelli), filho de pais falecidos, e Liliane/Pituca (Cristina Mullins), filha do coronel Epaminondas Napoleão (Castro Gonzaga).

Depois de dez anos estudando em Belo Horizonte, o rapaz volta à cidade natal e descobre que as terras do coronel, na verdade, haviam sido tomadas de sua família. A partir daí, começa um dilema: o rapaz precisa reaver o que é seu de direito, mas, ao mesmo tempo, apaixona-se pela filha do fazendeiro. Mas a ideia inicial acabou se perdendo e a novela ficou muito aquém dos sucessos anteriores que Benedito Ruy Barbosa havia obtido no horário das seis (com Cabocla e Paraíso).


5. Partido Alto (1984)
De Aguinaldo Silva e Glória Perez


Isadora (Elizabeth Savalla) é filha do rico industrial Amoedo (Rubens Corrêa). Depois de um casamento problemático com o mau-caráter Sérgio (Herson Capri), ela se envolve com o professor Maurício (Cláudio Marzo), que é assediado por Celina (Glória Pires), a jovem filha do bicheiro Célio Cruz (Raul Cortez), envolvido com um roubo de joias.


Partido Alto marcou a estreia de Aguinaldo Silva e Glória Perez como autores titulares de novelas. A história abordava um tema polêmico: o poder cada vez maior do jogo do bicho na vida carioca, representado na trama pela figura do bicheiro Célio Cruz. Por causa disso, a novela sofreu inúmeras interferências da Censura, o que prejudicou a história de vários personagens.

Como se não bastasse, depois de vários problemas entre os dois autores, Aguinaldo Silva resolveu deixar a novela e Glória Perez passou a conduzir Partido Alto sozinha até o final. Mas a história, que pecava pelo excesso de tramas e pelas soluções pobres, já havia naufragado.


6. Um Sonho a Mais (1985)
De Daniel Más


Com argumento de Lauro César Muniz e Daniel Más, baseado na peça teatral Volpone, de Ben Johnson, foi escrita inicialmente por Daniel Más com supervisão de Muniz. Por causa da baixa audiência, Daniel foi afastado da novela (no capítulo 37), que passou a ser escrita por Lauro César Muniz, com colaboração de Mário Prata e Dagomir Marquezi.


Na década de 1960, Antônio Carlos Volpone (Ney Latorraca) é acusado de matar o pai de sua noiva Stella (Silvia Bandeira). Para fugir da acusação, Volpone foge do país com seu amigo Mosca (Marco Nanini), faz fortuna e passa a viver no Egito. Stella casa-se com Orlando Aranha (Fúlvio Stefanini), rival de Volpone. Vinte anos depois, Volpone vê Stella passeando pelo Cairo, percebe que continua a amando e decide voltar ao Brasil.

Para não ser preso, anuncia que está com uma grave doença e por isso vive preso numa redoma de plástico. Mas enquanto um ator fica dentro da bolha de plástico, simulando ser Volpone, o verdadeiro circula disfarçado entre seus antigos amigos e inimigos, investigando quem é o verdadeiro assassino e tentando se aproximar de Stella. Entre os vários disfarces que assumidos por Volpone, o da secretária Anabela Freire foi o maior destaque da novela.

O ritmo agitado e a trama nonsense assustaram o grande público e a queda na audiência foi inevitável. O elenco mal escalado e a trama inicial sem credibilidade também não ajudaram. A novela só é lembrada até hoje graças à charmosa solteirona vivida por Latorraca. O sucesso foi tanto que surgiram sua irmã Florisbela (Marco Nanini) e a prima Clarabela (Antônio Pedro), que não estavam no argumento inicial. Mas a parte mais conservadora do público achou ousado e exigiu que a Censura retirasse os travestis da novela. A Globo só conseguiu manter Anabela, pois ela estava na sinopse aprovada pela Censura.


7. De Quina Pra Lua (1985-86)
De Alcides Nogueira


Com argumento de Benedito Ruy Barbosa, a história começa quando Zezão (Milton Moraes) morre atropelado, após ganhar uma fortuna na Loteria. O cartão premiado acaba sendo enterrado com ele, para desespero da família. Angelina (Eva Wilma), mulher de Zezão, e os quatro filhos procuram em todos os lugares possíveis, até que a viúva tem uma visão em que o marido lhe diz ter sido enterrado com o cartão, que está no bolso de seu paletó.


Angelina decide então desenterrar o corpo de Zezão. Quando abrem o caixão, descobrem que o cadáver está apenas de cuecas e deduzem que o bilhete foi roubado. Começa então aí a trama principal da novela: a busca pelo cartão desaparecido. O professor Dante Cagliosto (Agildo Ribeiro), grande amigo de Zezão, decide ajudar a família de seu grande amigo e passa a coordenar a procura pelo cartão premiado.

Entrechos potencialmente interessantes ficaram perdidos na trama e a novela foi uma grande decepção. No auge da confusão, Walter Negrão foi escalado para tentar salvar o que ainda havia para ser salvo, mas já era tarde. “É uma novela fraca. Foi minha primeira experiência como autor-titular, mas não gosto do resultado”, comentou Alcides Nogueira em entrevista a José Vitor Rack, anos depois. “A sinopse original era do Benedito Ruy Barbosa. Provavelmente ele teria conduzido a trama de maneira diferente da minha, já que nossos universos são bem distintos. Hoje vejo que ainda não estava pronto para assumir uma novela”. (Fonte: Site Teledramaturgia)


8. Hipertensão (1986-87)
De Ivani Ribeiro


A espinha dorsal da novela Nossa Filha Gabriela (exibida pela Tupi em 1971), também de Ivani Ribeiro, foi o ponto de partida. A autora fez ajustes, incluiu novas tramas e reciclou a história.


Carina (Maria Zilda), estrela da companhia de teatro mambembe de Sandro Galhardi (Cláudio Cavalcanti), conhece três simpáticos velhinhos: Candinho (Paulo Gracindo), Romeu (Ary Fontoura) e Napoleão (Cláudio Corrêa e Castro). O que ela não sabe é que um deles é seu pai. No passado, os velhinhos haviam se casado com trigêmeas e uma delas era a mãe de Carina. O mistério dura até o final da trama. Enquanto isso, a jovem Luzia (Cláudia Abreu) é assassinada e entre os suspeitos está Ray (Taumaturgo Ferreira), filho da poderosa Donana (Geórgia Gomide), que faz de tudo para inocentá-lo.

A novela não foi propriamente um fiasco, mas também não fez o sucesso da anterior, Cambalacho, e nem da posterior, Brega & Chique. Fafy Siqueira marcou época como a personagem Fifi Fofoqueira, sempre na janela, tomando conta da vida alheia. Cláudio Corrêa e Castro fez o mesmo papel da versão anterior.